quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Ética empresarial: o supra-sumo da hipocrisia?


A questão ética na empresa é uma moda, uma questão de eficiência ou um dever?
Até que ponto a ética empresarial dissociada da ética do gestor é uma hipocrisia? As questões foram colocadas pelo padre João Seabra, no encontro da ACEGE.
POR VITOR NORINHA

Um dos aspectos mais interessantes da responsabilidade social das empresas foi a evolução que o conceito foi adquirindo ao longo dos anos. O padre João Seabra aproveitou o almoço-debate mensal da ACEGE, a Associação dos Empresários Cristãos, para relançar o tema, com muitas ideias e argumentos - como sublinhou - do seu colega economista João César das Neves.

O economista é vice-presidente do Centro de Ética Empresarial da Universidade Católica e o padre João Seabra está a presidir ao referido Centro.

"A ética empresarial e a responsabilidade social são aquisições recentes", afirma o padre João Seabra que cita o conhecido economista Milton Friedman. Este afirmava que "a única responsabilidade da empresa era gerar lucro". João Seabra concluiu que "a razão porque a ética empresarial é moda é porque é uma imposição das circunstâncias" e adianta que em muitas empresas bem geridas, estas acabaram por ter problemas graves por questões éticas e "daí a necessidade empresarial de aferir o comportamento ético".
O padre João Seabra que, mais uma vez, recordava um trabalho recente de João César das Neves, agarrou na The Economist e fez um apanhado daquilo que foi entendido como o "jogo da ética empresarial" ao longo dos últimos 20 anos, ou seja, aquilo que se dizia na prestigiada revista em 1993, em 2000 e em 2005.

Mas, para além do interesse na evolução do conceito, que nitidamente estava ligado às necessidades circunstanciais, também o tratamento dado pelas universidades americanas e pela sociedade americana, evoluiu ao longo dos últimos 100 anos.

A prestigiada Universidade de Harvard já oferecia um curso de ética em 1915 mas, verdadeiramente, só no início dos anos 80 é que as generalidades das universidades americanas começaram a oferecer cursos ligados à responsabilidade social e empresarial e ainda à responsabilidade do empresário, dentro do mesmo âmbito.

Actualmente, existirão cerca de 500 cursos deste tipo em todas as universidades americanas. A razão porque o tema se tornou interessante nos anos 80 foi porque surgiram graves problemas nas empresas, sobretudo nas financeiras, ligados à ética da gestão, à ética do relacionamento com os clientes e, até mesmo, relacionadas com a ética do procedimento perante a sociedade. Algumas das grandes operações financeiras nos mercados americanos tiveram repercussões mundiais e prejudicaram a sociedade em geral.

Existem nos EUA empresas de consultoria, como a conhecida PriceWaterhouseCoopers que oferecem serviços para auditar as companhias.

A partir daqui, salienta o presidente do Centro de Ética da Católica, "a questão ética passou a ser um "must" empresarial". E, frisa: "não existe empresário ou administração séria que não se queira associar à sua actividade, algo ligado à ajuda, que pode ser ajuda social, ou melhoria ambiental. Concluir que "esta difusão de ética é boa" e é boa porque as empresas se sentem estimuladas a fazer melhor pelas pessoas e pelo ambiente, sublinha.

O padre João Seabra, aproveita mais uma ideia de César das Neves, nesta sua exposição e faz um paradigma àquilo que aconteceu há uns anos, com os problemas do "inside trading" no mercado de Valores Mobiliários. O economista dizia que "a cadeia faz falta à Bolsa", ou seja, sabendo-se que existe a sanção e esta é correctamente aplicada, haverá a preocupação de não infringir as regras. Aplicando a questão da ética empresarial e da responsabilidade social do empresário e gestor, conclui-se que "a aplicação é ética é boa para o ambiente".

HIPOCRISIA

A ética aplicada pela necessidade pode ser uma hipocrisia, mas não deixa de ser boa. O padre João Seabra afirma, com ironia, não ter cepticismo ético sobre a hipocrisia, para depois aproveitar uma ideia retirada, mais um vez, da The Economist onde se afirmava que "hoje a responsabilidade social das empresas é o tributo que o capitalismo presta à virtude". O paralelismo que se pode fazer com as empresas é concluir que a responsabilidade social desta "é uma hipocrisia", afirmava o palestrante.
Mas, como em tudo, existe o lado bom: "esta hipocrisia melhora a prestação social das empresas, com melhorias políticas do ambiente, maior responsabilidade perante pessoas e o planeta mas, continua a ter um defeito crucial: esta política social melhorada "tem pouco a ver com a vida de cada empresário". O padre João Seabra lança o repto: "muitas coisas das empresas dependem da consciência pessoal" e acrescenta que "não há sistemas perfeitos que possam dispensar o drama da responsabilidade pessoal perante o acto colectivo".

Afirma, por outro lado que"a responsabilidade social da empresa pode tornar-se um ecrã ou um véu que oculta aos empresários e gestores a questão ética.

A PERGUNTA

Aqui entra a grande questão ligada à interiorização do gestor, ao seu papel pessoal, aos seus princípios e às suas decisões. O padre João Seabra aproveitou uma cena de um conhecido filme para fazer a mesma pergunta que o personagem fazia, diante de um espelho, depois de criar uma hecatombe nos mercados financeiros.

Não questionava o impacto na sociedade, mas questionava-se a sua imagem no espelho com a pergunta: "Quem sou?".

A conclusão é de que "de nada vale ao homem ganhar o mundo interior, se se perder a si próprio!".

Relembrando, a história tem que as empresas, inicialmente, nem se quer colocavam a questão de falar em moralidade. Depois, a ética passou a ser eficiente e eficaz. Dizia-se, mesmo, que "ser ético, era ser mais eficiente do que não ético". As grandes multinacionais do tabaco são o paradigma desta ideia quando publicitam no produto que vendem a frase "o tabaco mata!".

E, mesmo depois de tudo isto, surgiu na justiça americana grandes processo contra as tabaqueiras, "desenterrando" problemas e histórias com dezenas de anos, ou aludindo a questões éticas que foram lançadas mas que, em simultâneo aliciavam os adolescentes para maiores consumos. Toda esta história gerou um novo tipo de responsabilidade.

"O fumo mata!" é, afirma o padre João Seabra, "a caricatura da responsabilidade social da empresa e o supra-sumo da hipocrisia societária".

Concluímos que "não nos importa as motivações mas, a obtenção de procedimentos e os protocolos". É preciso "ponderar e avaliar por que lógica é que a ética empresarial tornam as motivações pessoais irrelevantes".

O palestrante coloca a natural dúvida se a mera colocação num organigrama de uma direcção de ética, possa ser suficiente para que essa postura e essa atitude sejam, de imediato, asseguradas pelo empresário. A conclusão é de que "os comportamentos éticos têm de ter razões éticas" e "hoje há uma maneira de falar de ética".

O padre João Seabra refere-se à passagem da última Encíclica do Papa Bento XVI. Afirma-se que "o bem-estar material do Mundo nunca pode ser assegurado apenas por estruturas", para depois falar em impedimento à liberdade em convicções relativamente ao ordenamento comunitário. A conclusão óbvia é de que "a liberdade deve ser incessantemente reconquistada para o bem".

A ética cumprida não é picar o ponto. Não é um mero acto formal executado na empresa. "Não se está ético" pelo simples facto de picar o ponto, afirma o palestrante. Acrescenta que "esta maneira de conceber ética formal não substitui responsabilidade pessoal". Concluiu a sua dissertação com algo que não se coaduna nas empresas modernas, onde se pensa em equipas profissionais, mas onde não se pensa na família e no impacto que a empresa poderá ter no relacionamento dessa mesma família. A questão final, para o empresário e gestor, está nas perguntas.

"O que me esforço por ser, o que sou e o que quero ser". A pergunta do actor Michael Douglas ao espelho, depois das consequências dos seus actos no sistema financeiro mundial, é crucial.


Artigo publicado originalmente no jornal OJE, de 13 de Dezembro.

OrdemLivre.org é uma organização não-governamental sem qualquer vínculo partidário. Fundada sobre os princípios de liberdade individual, mercado livre, paz e governo limitado, OrdemLivre.org promove uma ordem económica eficiente e uma filosofia política moral e inspiradora por meio de publicações e eventos.

Para alem do site, também existe o blog [clica]

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Segunda-Feira com João Cesar das Neves

(...)Privatiza-se não o que se deve, mas o que rende. Como as corporações capturaram as funções que deveriam exercer, cada ministério trata mais de reivindicações de profissionais que do seu serviço ao povo.(...) Um recente caso escandaloso é o das Estradas de Portugal. Entregou-se a uma sociedade anónima uma função essencial do Estado, a liberdade de circulação, pois estradas abertas constituem um direito fundamental de cidadania. Qual a razão? (...)




(...) O Estado tornou-se uma galinha tonta, a correr em todos os sentidos. As gerações futuras vão divertir-se com este tempo infantil que acha que a lei resolve tudo mas não consegue decidir qual lei o deve fazer.


Ver o texto completo: A INVERSÃO DO PAPEL DO ESTADO(CLICA)

Welcome John Maynard Keynes



O criador da Macroeconomia.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Meritocracia

"Os Bons afirmam-se sempre" Este é o optimismo liberal.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Jesus de Nazaré

Jesus de Nazaré

Apresentação do livro de Bento XVI

por

Padre Jacinto Farias

João César das Neves

Laurinda Alves


com a presença do Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa

Cinema S. Jorge. Av. da Liberdade. 28 Nov. 19:00

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Segunda-Feira com João Cesar das Neves

"(...) O factor decisivo da Internet é de facto a liberdade. Mas a liberdade descontrolada e irresponsável torna-se embriagante e destruidora. O nosso tempo diz ansiar pela liberdade radical, mas depois quer justiça, segurança, direitos. (...) Aqui surge outro problema. Muitos espantam-se por sociedades avançadas e sofisticadas tolerarem tais comportamentos. O que leva a Alemanha de Bach e Goethe a ajoelhar-se diante de Hitler? Serve-nos de aviso a afirmação de S. Bernardo: "Não há nada tão firmemente estabelecido na alma que a negligência e o tempo não enfraqueçam" (De Consideratione, I," ii, 2). JCN, A INTERNET E O FAR WEST, no DN 26. 11.07

A verdade é que a pedofilia tornou-se o segundo negocio mais rentável do mundo, depois do trafico de órgãos/pessoas, por consequência da Internet; que existe um risco de milhares crianças, nas suas proprias casas de serem aliciadas por predadores sexuais pela Internet, isso é um problema social da pós-modernidade muito grave.

Ver o texto completo:
A INTERNET E O FAR WEST (CLICA)

Porquê do blog

Mensagem escrita no: Pelo Mar aberto

Novo Blog: Ave Cæsar, morituri te salutant

Estava mais uma amiga, estudante de mestrado em economia, a falar o quanto o Professor João César das Neves (JCN) é criticado na blogsfera! Assim naquilo que devia ser uma conversa casual surgiu um blog de duas pessoas que gostam de economia e do João César das Neves e do Vaticano II.
O Link do Blog é: http://almocosgratissodamae.blogspot.com/
Almoços Grátis só da mãe, porque ao contrario do mestre acreditamos na inocência de alguns almoços grátis, assim como acreditamos na obrigação social das empresas, da moral e ética da economia e do mercado aberto.
O Economista JCN, não é meu professor, nem temos nenhuma relação clientelar, para alem das suas cronica e das suas ideias não espero nada dele, ele nem sonha a existência deste blog. Decidi fazer isto porque é um tema que me interessa e assim incentiva-me a aprofundar os meus conhecimentos na economia, que são escassos, ficando mais atenta ás noticias e claro também quero chatear alguns ateus e alguns marxistas.

domingo, 25 de novembro de 2007

The Economist


O director da mais famosa e atenta revista de economia a nivel internacional "The Economist" é o Filosofo, Anthony Gottlieb que escreveu a grande obra "The Dream of Reason: A History of Philosophy from the Greeks to the Renaissance" .
Coincidência? Não! Porque para raciocinar economia a filosofia é tão necessário como a formação técnica e matemática, é essencial jogar com a sociedade, a moral e as ideias. A economia moderna não é o capitalismo selvagem dos tempos modernos de Charlie Chaplin nem a China de Mao Tsé-tung.
Claro que Gottlieb tem um grupo de tecnocratas da máquina económica a trabalhar consigo, mas não deixa de ser mais um exemplo da união de facto da ECONOMIA E A FILOSOFIA.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Adam Smith (o original)


"[comércio livre] a melhor solução para todas as questões ligadas à história do comércio e com o sistema de economia política".
Adam Smith, in A Riqueza das Nações

Segunda-Feira com João Cesar das Neves

Esta mensagem era para ser escrita ontem, ando cheia de trabalho e não tive tempo, mas também não podia deixar de escrever!
Cada pessoa tem a sua rotina, há quem vai ao futebol no sábado, há quem vai a casa dos avós no domingo, há quem tenha curso de inglês na terça etc... Nós temos o JCN na Segunda com o DN.
Na blogosfera JCN é muito criticado negativamente, apesar de não concordar com tudo que o economista escreve, sempre achei que era um homem de CORAGEM a maioria das pessoas que pensam como ele nunca teriam a audácia de escrever o que ele escreve, expor a sua pessoa académica de uma forma mediática, assim é uma pessoa que eu ADMIRO.

A minha/meu colega AS não podia ter feito uma interpretação melhor das palavras do professor, não esperava outra coisa de grande discípula económica na academia portuguesa.
Aqui fica o texto: AS DESVENTURAS DA DEMOCRACIA (CLICA)

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O melhor de: "AS DESVENTURAS DA DEMOCRACIA"

"O pior de tudo é que, ao insistir na tolice de recusar diferenças, se deixa de actuar onde é conveniente e necessário. O esforço de cada época deve ser, não eliminar desigualdades mas injustiças, não erradicar classes mas evitar a sua degradação e promover a mobilidade. Cada grupo deve cumprir o seu dever no bem comum."
JCN in DN

Este parágrafo fez-me lembrar a guerra aberta que o Governo (com uma lei que designaram de
"contra discriminação" que não faz sentido nenhum!) está a fazer a todas as formas de "discriminação". Devo realçar que embora este termo não tenha uma conotação necessariamente negativa é encarada como um inimigo público! Existe diferenciação positiva e quem não percebe isso deseja formar uma sociedade cinzenta, onde não há lugar para a criatividade e espontaneidade e onde necessariamente o padrão vai ser nivelado por baixo.
A justiça é tratar iguais como iguais e diferentes como diferentes. Neste sentido todos somos iguais porque somos seres humanos com uma dignidade infinita. Mas por outro lado somos indivíduos singulares e irrepetíveis !
Contra a mediania e mediocridade, privilegiando a diversidade!Deixem-me ser eu próprio!
Deixo como recomendação o livro: "Admirável Mundo Novo"- Aquilo que queremos ser mas não da forma como Huxley o retrata!
AS

domingo, 18 de novembro de 2007

DESCOBERTA DE UMA NOVA CIÊNCIA!!!!!!!

Adam Smith (Pai da Economia) era um Professor de moral (O quê?????? Um professor de moral descobriu a Economia?! Isso é uma contradição!!) que descobriu a Economia como um sistema formado por uma teia muito complexa de relações comerciais. Smith utilizou como exemplo para ilustrar a sua tese um casaco de lã de um pastor:


"O casaco de lã, por exemplo, que o trabalhador usa para agasalhar-se, por mais rude
que seja, é o produto do trabalho conjugado de uma grande multidão de trabalhadores.
O pastor, o selecionador de lã, o cardador, o tintureiro, o fiandeiro, o tecelão, o
pisoeiro, o confeccionador de roupas, além de muitos outros, todos eles precisam
contribuir com suas profissões específicas para fabricar esse produto tão comum de
uso diário (SMITH, 1983, p. 46)".



AS

sábado, 17 de novembro de 2007

Economia Ética e Moral

Apesar do seu histórico carácter indigno, o grande sociólogo Max Weber consegui ver religiosidade na economia. Agora, transportando essa religiosidade para um horizonte de catolicismo, interrogamos, será que a economia enquadra-se num espírito Católico? Há ética num mundo capitalista e neo-liberal?


"(...) A moderna economia de empresa comporta aspectos positivos, cuja raiz é a liberdade da pessoa, que se exprime no campo económico e em muitos outros campos. A economia, de facto, é apenas um sector da multiforme actividade humana, e nela, como em qualquer outro campo, vale o direito à liberdade, da mesma forma que o dever de a usar responsavelmente. Mas é importante notar a existência de diferenças específicas entre essas tendências da sociedade actual, e as do passado, mesmo se recente. Se outrora o factor decisivo da produção era a terra e mais tarde o capital, visto como o conjunto de maquinaria e de bens instrumentais, hoje o factor decisivo é cada vez mais o próprio homem, isto é, a sua capacidade de conhecimento que se revela no saber científico, a sua capacidade de organização solidária, a sua capacidade de intuir e satisfazer a necessidade do outro. (...)"
Papa João Paulo II, Centesimus Annus